Portugal está de novo a arder. Todos os anos repetem-se as imagens de destruição, os discursos políticos emocionados, os agradecimentos às corporações de bombeiros e as promessas de “reformas estruturais”, que claro está, nunca saem do papel. A cada ano, mais floresta queimada, mais aldeias cercadas pelas chamas, mais milhões gastos. E no fim, mais nada!
E porquê? Porque a tragédia, afinal, é altamente rentável para alguns.
Há poucos meses, ainda este ano, a Polícia Judiciária lançou a operação Torre de Controlo, que expôs um esquema de corrupção entre empresas de meios aéreos, altos responsáveis do Estado e contratos públicos no âmbito do combate aos incêndios.
As suspeitas são formação de cartel, manipulação de concursos, favorecimento de empresas de amigos através de ajustes diretos e superfaturação de contratos. O Estado terá pago mais 30% do que devia por helicópteros e outros serviços. Entre os envolvidos, surgem nomes com ligações familiares ao ministro António Leitão Amaro. O ministro, claro, escusou-se comentar por “incompatibilidades”.
Não é caso único, nos incêndios de Pedrógão, também houve denúncias de desvio de donativos e atribuição de subsídios a casas que nem sequer arderam. A montanha investigatória pariu um rato jurídico.
Quase tudo foi arquivado, ninguém foi responsabilizado. A mensagem é clara: em Portugal, quando há tragédia, há sempre alguém a lucrar com ela.
O problema já não é só de negligência. É de incentivo. Apagar fogos tornou-se um negócio.
Um negócio que depende da continuação da calamidade. E enquanto a desgraça gerar lucro, não há vontade de a evitar.
Em vez de investir na prevenção, no ordenamento florestal, na limpeza dos matos e na fiscalização séria, o Estado prefere gastar milhões a correr atrás do prejuízo. Mas correr lentamente, com os fornecedores certos, com os ajustes diretos certos, com as comissões certas.
Até porque em matéria de prevenção a única medida concreta que me recordo, foi onerar os proprietários com limpezas obrigatórias que ao fim destes anos já podemos dizer com razoável certeza que pouco ou nada ajudaram a controlar o número e gravidade de incêndios.
Não falta tecnologia, não faltam meios, nem sequer falta dinheiro. Falta é vontade de acabar com o ciclo de dependência e saque ao erário público.
Falta de vontade de acabar com as ligações promíscuas entre empresas e políticos, de pôr fim ao compadrio institucional e dar prioridade ao bem comum em vez do lucro privado!
Enquanto isso não acontecer, o país continuará a arder. Não só nas serras e nas matas, mas na própria ideia de Estado. Porque quando o Estado serve primeiro quem dele se serve, em vez de servir quem o sustenta, então a as chamas já não estão só no meio do mato mas no centro, no núcleo, na alma da nação… a consumi-la lentamente, matando uns para que outros engordem.
Júlio Alves
29/07/2025
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